Dirigi-me então com o meu Pai ao Instituto de Onclogia para aquela que seria a última oportunidade de poder ser operado.
Enquanto o Director do Instituto de então, "infelizmente já falecido" e tratando-se de um ser humano fabuloso e de uma enorme competência profissional
No dialogo entre médico e paciente continuava meu Pai a recusar a ser operado. Pedi ao Doutor se lhe poderia dirigir uma palavra em particular; prontamente acedeu e quando lhe perguntei: se apesar de morrer tão rápidamente as pessoas daquela doença sem compromissos, mas como ser humano se lhe parecia que o caso do meu Pai seria de alguma esperança.
Disse-me que sim. E mesmo que não o fosse, a operação à Laringe permitia-lhe ter uma morte tranquíla e não morrer abafado.
Entrei para dentro e dei duas opções a meu Pai: ou assinava o termo de responsabilidade da operação, ou então ficava ali entregue a si mesmo... e que seria rejeitado pela totalidade dos filhos. Que essa decisão nós já a tinahmos tomado em conjunto. (Nunca o faríamos era apenas um método utilizado a levá-lo a assinar).
A chorar deixou de insistir. Então meti-lhe a esfe´rográfica nos dedos, peguei-lhe na mão ,e ele assinou.
Ocorreu a operação na Ordem de S. Francisco, no dia seguinte fomos visitá-lo, quando vi tantos tubos ligados fiquei horrorisado, parecia uma central eléctrica.
Vim-me embora e andei largos dias a passar mal, quase como com a criminar-me pelo acto que tinha assumido.
Passaram-se longos meses e por vezes as coisas foram muito difícieis, como por exemplo quando foi a celebre greve dos médicos, e não fosse terem aberto uma excepção e o terem atendido ele tinha ali embarcado.
Teve felizmente uma longa vida e mesmo não pronunciando as palavras, nós percebiamo-lo perfeitamente e ele ainda tinha a vantagem de escrever razoável.
Durante vários anos foi o doente mor do Instituo por ter o galardão de mais antigo.
Veio mais tarde a reaparecer-lhe um outro cancro no pulmão, que acabaria por o vitimar, mas ainda resistiu dezoito meses.
Durante muito tempo visitei e acompanhei o meu progenitor ao IPO. O amor com que os Amigos do IPO em regime de voluntariado os apoiavam mentalmente e que eles doentes com essa força mental superavam as dores provocadas pela doença.
Assisti a exemplos que nunca mais esqueci, nem esquecerei. A forma como suportavam a dor, e acreditavam que o dia de amanhã lhe traria melhoras e muitos deles em fase terminal e até alguns pereceram nesse dia de conversas que lhes ouvi.
Crer é mesmo poder.
Todos os momentos da vida são preciosissimos.Lutar contra ela doença não é ser herói, é saber servir uma boa causa.
1 comentário:
Homem habituado a lutas, como tu, saberás vencer com uma perna às costas, é só uma questão de seguir os conselhos da Medicina!
Um Abraço
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